Os Celtas em Citânia de Briteiros, uma Ótima Dica de Turismo Arqueológico em Portugal

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Citânia de Briteiros é um sítio arqueológico da Idade do Ferro, com características da cultura dos castros (povoados em estrutura circular) do noroeste da Península Ibérica

Próximo à encantadora Guimarães (já comentei a respeito aqui), na Região do Minho, ao norte de Portugal, está Citânia de Briteiros, um dos mais importantes achados arqueológicos do país. Um local onde viviam os Brácaros e Galaicos – o que muitos pesquisadores definem em geral como Celtiberos, os Celtas que habitavam a Ibéria, um conjunto de tribos celtas que habitavam o Noroeste da Península Ibérica.

Descoberto pelo arqueólogo Martins Sarmento, que dedicou a vida ao estudo desses agrupamentos, Citânia contém os alicerces de 150 casas de pedra, algumas delas reconstruídas. Do século IV a.C ao IV da nossa era, o lugar foi habitado por celtiberos, mas acredita-se que esteve em poder dos romanos desde 20 a.C. Várias trilhas levam o visitante através de ruas calçadas, cisternas subterrâneas, residências, esgotos, uma espécie de prefeitura e aquedutos.

 

Em Guimarães, o Museu Martins Sarmento reúne um rico acervo arqueológico, etnológico e numismático acerca dos Lusitanos e Celtas que um dia viveram na região. O que mais chama a atenção é o Colosso de Pedralva, uma figura de pedra de 3 metros de altura. Há um raro par de guerreiros lusitanos em granito, um carro de boi votivo e as Pedras Formosas, inscritas com figuras humanas.

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Guerreiros lusitanos no Museu Martins Sarmento
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Pedra Formosa: monolitos de grandes dimensões decorados com gravuras em baixo relevo. Estavam localizados em saunas da civilização castreja
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Carro de boi votivo

 

Voltando à Citânia de Briteiros, há ainda o Museu da Cultura Castreja, também conectado a Martins Sarmento – no Museu Martins Sarmento é possível comprar os tíquetes para as três atrações.

 

Nas fotos abaixo, exemplo de Castro em Citânia de Briteiros. Os castros consistem em ruínas de povoados com estrutura circular da Idade do Cobre e do Ferro, característicos das montanhas do noroeste da Península Ibérica.

 

O território entre os rios Douro e Minho era habitado, no final da Idade do Ferro, por várias comunidades, cujos nomes nos chegaram por relatos dos romanos. Após violentas batalhas entre as tropas romanas e dos Brácaros, seguidas por expedições romanas e intensa atividade comercial, os Brácaros começaram a revelar maior abertura ao poder Romano, já no reinado de César Augusto.

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Interior de casa reconstruída por Martins Sarmento em Citânia de Briteiros

 

 

Terminadas as Guerras Cântabras, viu-se um processo de alterações a nível cultural, político e econômico conhecido como Romanização.

Como eu sempre li sobre a importância de Martins Sarmento, a Citânia e o clássico Religiões da Lusitânia, de José Leite de Vasconcelos, uma visita a esses locais estava nos meus planos há anos!

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Museu Martins Sarmento, em Guimarães 
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Saltério do século XVIII enviado do Brasil a Martins Sarmento
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Busto de Martins Sarmento

 

Religiões da Lusitânia 

Da série livros preferidos da minha biblioteca… Reli essa obra magnífica de José Leite de Vasconcelos por diversas vezes… Desde o final dos anos 90, tinha cópias dos 3 volumes de Religiões da Lusitânia comigo. Até que, por volta de 2010 os adquiri no site brasileiro Estante Virtual – que engloba sebos com raridades nacionais e internacionais de Norte a Sul do Brasil: Religiões da Lusitânia é facilmente encontrado nos sebos cadastrados pelo site.

 

São três volumes que versam sobre as religiões no território hoje correspondente a Portugal, nos períodos da Pré-História e Antiguidade. É um livro ímpar, daquele que foi a maior figura científica de Portugal, José Leite de Vasconcelos – pioneiro em investigação etnográfica e arqueológica em Portugal.

Centenas de fotos em páginas valiosas que explicam desde a religiosidade no período paleolítico (vestígios nos conselhos de Peniche, Óbidos e Leiria) até os Visigodos e Suevos (no terceiro volume), passando por cultos à natureza (a importância da Lua), trepanação póstuma, os cultos dos mortos (grutas, lapas etc).

Publicado entre 1897 e 1913 pela Imprensa da Casa da Moeda de Lisboa, Religiões da Lusitânia aborda a religiosidade de todos os povos que viveram na Lusitânia – e inclusive a religiosidade e os costumes derivados dessa grande mistura: Iberos, Fenícios (povo semita), Ligures, Gregos, Cartagineses, Celtas, Romanos, Visigodos, Suevos etc. Há muita informação sobre divindades pouco conhecidas, como Endovélico, Trebaruna, Atégina, Poemana… E muitas divindades indígenas foram romanizadas. O fascinante é que havia divindades de origem asiática e africana, como Mithras e Isis.

Eu particularmente me interesso mais sobre as invasões bárbaras na Península, dos Visigodos, Suevos e Alanos a partir do ano de 409 D.C. Visigodos, em particular, foram tema da minha monografia de graduação na universidade. Daí o interesse. Sempre me interessou o Arianismo entre eles professado: uma dentre as várias heresias que fizeram parte da História da Igreja. Partindo de uma base racionalista, de querer explicar os mistérios da Santíssima Trindade, o Arianismo negava a unidade e consubstancialidade de suas três pessoas e, por consequência, a divindade de Jesus Cristo.

É uma obra grandiosa, que aborda a pouco conhecida religiosidade da Lusitânia. Com relação ao Brasil, fica fácil de se perceber a influência desse passado politeísta até hoje em algumas crenças e tradições populares, superstições – de lá e de cá.

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