Mértola (Baixo Alentejo) – entre o Islã e Roma ao Sul de Portugal

Vista de Mértola do Alto. Creio que tirei essa foto de onde está a Igreja Matriz

Um país pequeno, mas com passado essencialmente multiétnico como Portugal, só poderia ter dado origem a um (vasto) território como o Brasil, marcado mais por um “interculturalismo” do que por um “multiculturalismo”. E é essa síntese de tantos povos diferentes que torna a História de Portugal tão mais interessante – a meu ver, pelo menos – do que a de outros países da Europa.

Assim como Beja, também não muito distante de Évora, está a bela e branca Mértola, com grande tem grande importância histórica. Eu e meu esposo alugamos um carro já em nossa chegada no aeroporto de Lisboa e assim percorremos o país de carro. Imagine um país que é do tamanho (se muito) do Estado do Sergipe? Fácil demais para conhecer cada meandro. Em 21 dias conhecemos várias cidades. Ficamos por três dias em Évora e assim as cidades de Beja e de Mértola foram “bate voltas” em dias consecutivos.

A pequena cidade de Mértola (uma vila do distrito de Beja) chega a ser uma vila-museu com preciosidades de diferentes épocas expostas em núcleos, como bairro muçulmano e ruínas romanas. A cidade se originou na época dos fenícios, que criaram um próspero porto no interior, no rio Guadiana, posteriormente aproveitado pelos romanos e mouros.

O período pós-romano está exposto no Núcleo Visigótico e em uma antiga basílica cristã, cujas ruínas estão ao lado da estrada romana para Beja. A influência de vários séculos de domínio mourisco pode ser vista no Núcleo Islâmico de Mértola, que possui um dos mais belos acervos do país de arte islâmica portuguesa, incluindo cerâmicas, moedas e joias. 

A principal atração de Mértola, motivo pelo qual quis fazer um bate volta chegando cedo e indo embora ao final da tarde, é a Igreja Matriz, abaixo das muralhas mouriscas, já foi uma mesquita, a única em Portugal que foi pouco alterada. Entre os remanescentes árabes estão a nave quíntupla, quatro arcos em ferradura e um mihrab ou nicho de reza.

Há ainda uma igreja paleocristã:

A deslumbrante vista a partir dessa pequena igreja paleocristã

Ruínas romanas:

Antigo bairro muçulmano:

Ao lado do cemitério, o Castelo de Mértola conserva vestígios das épocas omíada e almóada, revelando uma estrutura gótica resultante da grande campanha construtiva de finais do século XIII, promovida pela Ordem de Santiago.

Mértola foi reconquistada (deixando de pertencer ao poder muçulmano) pela Ordem Militar de Santiago da Espada, em nome de Dom Sancho II, em 1292. Em reconhecimento, o rei doou-lhes o castelo e a vila, que Dom João Fernandes, primeiro mestre da Ordem em Portugal, reforçou com obras de fortificação. Na torre de menagem, foi fixado a primeira sede da Ordem de Santiago e a residência de alcaides e governadores. 

A Ordem de Santiago era daquelas milícias cristãs de monges cavaleiros que tinham como ideal a reconquista da Terra Santa – é a origem do meu sobrenome, aliás, de Cruzados que foram para Síria e meu trisavô era totalmente devoto de São Damasceno.

Mértola deve ser visitada de qualquer maneira. Algumas imagens adicionais, como a da réplica de uma casa muçulmana, o que era tão comum nessa cidade e em várias regiões da Península Ibérica, utensílios e lápides funerárias árabes:

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