
Quando visitei o Porto, última cidade que conheci em Portugal, aproveitei o passeio para conhecer a tradição vinhateira do Vale do Douro, a exemplo da visita que fiz à Cave Sandeman, Peso da Régua e Pinhão (post em detalhes aqui). Na lista dos vinhos com tradição, aproveitei também para imergir na história da Cave Ferreira e no imaginário relativo ao clássico logo do Vinho Mateus, duas atrações que eu fortemente recomendo.
Cave Ferreira e tour por Vila Nova de Gaia
Separada do Porto apenas por uma ponte, a vizinha Vila Nova de Gaia é conhecida principalmente pela maturação e transporte do vinho do Porto. A norma que dizia que o vinho como produto final só podia sair de Vila Nova de Gaia foi relaxada há alguns anos, mas a cidade ainda é o centro de sua comercialização. Por todo o lugar, encontram-se armazéns onde o vinho é misturado e envelhecido.

E entre esses armazéns eu visitei uma marca de vinho que por coincidência tem parte do meu sobrenome, Ferreira. Meu nome paterno é composto, Damasceno Ferreira – Ferreira é parte do meu nome, um sobrenome português bem comum. Referenciada desde 1751, a história da marca confunde-se com a história da evolução da Região Demarcada do Douro (delimitada em 1756) e de seus Vinhos do Porto e vinhos de mesa.
Os Ferreira iniciaram a sua atividade comercial em meados do século XVIII, muito antes da influência inglesa na região. Até hoje a aura é mais tradicional – e mais portuguesa. Uma história ligada a senhora Dona Antónia Adelaide Ferreira, que era conhecida por ajudar aos pobres. E ela foi fundamental na consolidação da marca Ferreira.

Vi o brasão da família Ferreira – e não é todo dia que se faz uma degustação com vinho e copo no nosso sobrenome. O rapaz que conduziu a degustação e visita me falou que o nome é bastante tradicional, que havia Ferreira em Guimarães, onde os ingleses começaram a explorar a lucratividade dos vinhos e que a família dessa empresa é Ferreira de Peso da Régua.
Depois, apreciamos a vista de Vila Nova de Gaia e do Porto a bordo do bondinho (teleférico) e visitamos o Mosteiro da Serra do Pilar, erguido no século XVI, em formato circular.
Imagens de ambas as cidades do alto do teleférico:
E a charmosa Vila Nova de Gaia com o Mosteiro da Serra do Pilar:
A casa símbolo do Vinho Mateus

A Casa de Mateus me traz muitas recordações de meu pai. Eu passei a infância inteira o vendo tomar o vinho Mateus, que era um dos preferidos dele. Ele adorava particularmente o verde, em uma garrafa que parece um vaso e tem o tradicional logo da Casa de Mateus. Ele é integrado pela casa principal, belos jardins, uma capela e uma adega. A distância de carro entre Porto e Casa de Mateus é de pouco mais de uma hora de duração. O belo palácio fica na freguesia de Mateus, a três quilômetros de uma cidade chamada Vila Real.
Como o vinho me traz uma forte memória afetiva, não poderia deixar de visitar o maravilhoso solar que aparece nos rótulos do Vinho Mateus. O solar é aquilo que se pode chamar de apogeu da arquitetura barroca em Portugal – lembra demais a arquitetura barroca nas cidades históricas de Minas Gerais.
Projetada no começo do século XVIII, provavelmente por Niccolò Nasoni, para António José Botelho Mourão, cujos descendentes ainda residem na casa, é considerada monumento nacional desde 1911. A visita começa no salão de entrada do primeiro andar, decorado com duas graciosas liteiras e um magnífico teto de madeira onde se vê o brasão da família. Obras de arte, lustres de cristal e móveis talhados à mão marcam o interior do edifício. Os batentes e tetos da casa são de castanheira entalhada – infelizmente eles não permitem fotos, mas eu tirei de um dos ambientes.
Sob a escadaria de entrada, um corredor escuro entre os estábulos leva a um pátio interno e, além dele, aos jardins. Pouco resta do jardim original e o atual foi feito nos anos 1930 e 1940, seguindo, entretanto, o estilo de uma época mais romântica. Os complexos caminhos e canteiros clássicos separados por cercas vivas impecavelmente podadas formam uma tapeçaria viva, uma combinação quase perfeita com a elaborada simetria da casa.
Durante todo o ano, o que mais impressiona o visitante é o longo túnel de cedros. Ali pude comprar umas garrafas de Vinho Mateus, porém a produção não está relacionada à casa, hoje pertencente a uma fundação privada. Apesar da marca ter nascido ali, segundo os guias turísticos da Casa de Mateus, o vinho ganhou o mundo a partir de 1942, sendo produzido pelo grupo Sogrape, que adquiriu a marca. A Sogrape reúne empresas e marcas dedicadas à produção de vinhos de elevada qualidade.
