Palácio Tangará: como é se hospedar no hotel onde está a suíte mais cara do Brasil

Lux Capela, elemento decorativo na recepção com folhas de ouro, obra da artista Laura Vinci, é uma referência ao período do Brasil colonial

Farei um breve intervalo sobre as experiências na Região Sul para me dedicar a São Paulo. Senti vontade de falar a respeito porque SP, minha cidade brasileira preferida, contará em breve com a minha presença para assistir ao show de uma das minhas bandas preferidas, a estadunidense Mötley Crüe, em 7 de março. E o hotel que escolhi para me hospedar é o Palácio Tangará, onde estive recentemente com meu esposo, em setembro de 2022, para celebrar meu aniversário. Adorei o hotel por sua localização, em meio ao Parque Burle Marx, e não pensei duas vezes em repetir a estadia, a qual recomendo àqueles que desejem desfrutar de um ambiente bucólico e muito relaxante.

Tangará é o nome de um pássaro que é, inclusive, símbolo do hotel. A ave é comum nesta região da cidade (Zona Sul), conhecida como Panamby, bairro onde o hotel está localizado.

O Palácio Tangará disputa atualmente o posto de melhor hotel de luxo (alta hotelaria) de São Paulo com o recém-inaugurado Rosewood. É no Tangará, porém, que está localizada a suíte presidencial mais cara do Brasil, a Royal Suite, cuja diária custa R$ 38 mil reais. Há quartos mais simples e com preço mais acessível, como o que ficamos. Todos os quartos contam com banheira de hidromassagem e o meu tinha um espaçoso closet.

Logo ao chegar, descobri que o hotel oferece um serviço gratuito de organização das suas roupas, acessórios, sapatos, cosméticos etc. no closet. Eles abrem sua mala, mediante autorização, e organizam tudo em detalhes. Poucas vezes na vida eu vi tão perfeita organização. À beira de Transtorno Obsessivo Compulsivo, confesso que me maravilhei com tamanho esmero na organização.

Não conheci a Royal Suíte, mas fui informada de que está além de uma suíte presidencial: com impressionantes 560 m2, sendo 260 m2 de terraço panorâmico, com guarda-sóis, sofás e mesas. O espaço interno dela tem até uma sala de jantar para 12 lugares. No total, são 141 quartos, sendo 59 suítes mais luxuosas.

História

Vista da piscina externa à noite

O palácio carrega uma pitoresca história. Fora encomendado por Francisco Matarazzo Pignatari, empresário ítalo-brasileiro nascido em Nápoles, Itália, em 1917, e falecido em São Paulo, Brasil, em 1977. A edificação no terreno de Matarazzo serviria de moradia a ele e sua esposa, a nobre austríaca Ira Von Furstenberg. A família Matarazzo é parte da elite de São Paulo: Francisco foi um personagem singular na vida econômica e cultural do Brasil do século XX. Começou trabalhando na Laminação Nacional de Metais, que herdou de seu pai (aos 20 anos). É neto do conde Francesco Matarazzo e de Filomena Sansivieri, imigrantes italianos que foram os fundadores das I.R.F.M. (Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo), um dos maiores conglomerados da história brasileira, com 365 indústrias nos mais diversos segmentos.

Após a separação do casal, porém, a obra permaneceu inacabada durante muitos anos até que foi concluída e comprada por um fundo de investimentos norte-americano, com administração da rede hoteleira alemã Oetker. O projeto estava paralisado, restando no local apenas o paisagismo de Roberto Burle Marx, o responsável por ter introduzido o paisagismo modernista no Brasil e um dos primeiros a utilizar plantas nativas brasileiras em seus projetos. Anos mais tarde, os jardins foram transformados no Parque Municipal Burle Marx, que atualmente circunda o hotel e é aproveitado pelos hóspedes para caminhadas.

A Oetker Collection é a mesma rede hoteleira cujos hotéis sofisticados estão localizadas em diversos destinos: Le Bristol Paris, Brenners Park-Hotel & Spa em Baden-Baden, Lanesborough em Londres, entre outros.

Brasilidade com toques contemporâneos

Escadaria próxima à recepção

O palacete fora então revitalizado em 2015 e inaugurado em 2017, tendo assumido o projeto das áreas comuns e sociais a arquiteta brasileira Patricia Anastassiadis. Há também salão de festas com capacidade para até 400 convidados, spa e um fitness center, além de piscinas interna e externa.

O hotel evoca a sofisticação dos tempos do Brasil colonial com requintes modernos. Toda a arquitetura de interiores foi planejada a partir das obras de arte selecionadas para os ambientes – elas são o fio condutor da narrativa que sustenta o projeto. Uma aquarela do século XVIII do Jean-Baptiste Debret, com matizes acinzentadas, foi o ponto de partida para o desenvolvimento do projeto. O objetivo era evidenciar a riqueza dos minerais, das matérias-primas e do design estritamente nacionais, com toques contemporâneos.

Na recepção, um recorte côncavo no teto criou um tipo de domus que abriga o trabalho da artista brasileira Laura Vinci, intitulado Lux Capela. Feito de folhas de ouro, o elemento decorativo lembra, de um jeito moderno, o período do Brasil colonial. Grandes janelas também evocam as estruturas do período colonial.

Piscinas e Spa Sisley

Piscina interna data dos anos 40 e foi projeto do arquiteto Oscar Niemeyer

A piscina interna é parte do projeto original dos anos 40 e é obra do arquiteto Oscar Niemeyer, o mesmo responsável pela arquitetura de Brasília, onde residimos. Já a piscina externa proporciona a vista dos sofisticados prédios residenciais no bairro Panamby e do parque Burle Marx. E quando estive, em setembro, ainda estava frio e os dias eram acinzentados, chuvosos e com muita serração, o que torna o clima ainda mais especial para mim.

O spa do hotel (é lógico que eu frequentei e lá há várias opções de tratamentos faciais e corporais e massagens para todos os gostos) é da empresa francesa de beleza Sisley. Foi projetado também por Patrícia Anastassiadis, em parceria com a Sisley. O espaço, que possui um jardim privativo, expõe outros móveis especiais desenhados pela arquiteta. Um dos grandes detalhes do ambiente é o espelho d’água, completamente revestido por pastilhas. Sobre ele caem suspensões de aço que criam um elemento inusitado, impactando o olhar dos hóspedes logo na entrada.

Chá da tarde e café da manhã

Chá da tarde é inspirado no high tea do Lanesborough Oetker Collection, ao lado do Hyde Park, irmão-Hotel do Tangará em Londres

Servido das 15h às 18h, o chá da tarde do Tangará está entre os mais disputados de São Paulo. O hotel também é conhecido pelo excelente brunch dominical, o qual infelizmente não tive a oportunidade de conhecer porque nos hospedamos durante a semana.

O chá da tarde é uma experiência inspirada no tradicional high tea do Lanesborough Oetker Collection, ao lado do Hyde Park, irmão-Hotel do Tangará em Londres. É servido nos lounges externos e internos próximos ao piano, no Restaurante Pateo do Palácio. Trata-se de uma seleção de finger sandwiches, fine pastries e scones frescos – todos produzidos artesanalmente pelo chef pâtissier e servidos em formato torre. Acompanha um consomê, quiche, chocolate quente ou chá e suco.

O café da manhã é servido à la carte. Consiste em uma seleção de pães, frios, geleias, sucos e frutas, além de opções de pratos quentes como tapiocas, ovos Benedict e sanduíches de salmão, por exemplo. É possível também pedir o dejejum no quarto, desde que você preencha um formulário na noite anterior com os itens a sua escolha. Aqui fotos do meu café da manhã em três versões: buffet, no quarto e à la carte (mingau de banana e açaí com granola e banana).

Restaurante Pateo do Palácio

Área interna do Pateo do Palácio com bar

Um dos restaurantes do hotel: o Pateo do Palácio, localizado ao ar livre, com vista para o verde do Parque Burle Marx e a piscina externa. A área interna conta com um bar que serve ótimos drinks e mesas com ar despojado. Bandas de jazz e bossa nova se apresentam todas as noites.

O menu é elaborado pelos chefs Felipe Rodrigues e Jean-Georges Vongerichten, os mesmos que assinam o cardápio do restaurante Tangará Jean-Georges (esse um capítulo à parte). Meu almoço no Pateo do Palácio:

  • Pastéis recheados de salsa de trufas negras e queijo fontina;
  • Camarão crocante e maionese trufada com caviar;
  • Doce em formato de limão siciliano: mousse de chocolate branco, yuzu, gel e compota de limão siciliano.

Tangará Jean-Georges

O café da manhã é servido no Jean-Georges

Restaurante com estrela Michelin do mundialmente renomado chef Jean-Georges Vongerichten. É o primeiro restaurante dele na América do Sul. Funciona no Palácio Tangará de quarta a sábado somente para jantar (é bom reservar com antecedência porque é disputado).

Nascido na França e radicado em Nova Iorque, Jean-Georges Vongerichten, com duas estrelas Michelin, tem 41 restaurantes, em cidades como Nova Iorque, Las Vegas, Paris, Londres, Xangai, Tóquio e Hong Kong. Em Nova Iorque, o restaurante dele fica na Trump Tower, em uma das regiões mais disputadas de Manhattan, Central Park South.

Sua gastronomia, inspirada na culinária asiática, combina toques brasileiros no Jean-Georges de São Paulo. O restaurante do Palácio Tangará apresenta exclusiva mesa do chef, sala privativa, terraço externo em meio ao parque Burle Marx e uma ótima adega.

Menus de preço fixo e pratos especiais do dia são servidos na convidativa Chef’s Table. O restaurante oferece refeições à la carte, bem como menus de degustação e clássicos acompanhados por uma seleção de coquetéis autorais. Uma lista cuidadosamente selecionada de mais de 280 vinhos diferentes inclui rótulos do velho e do novo mundo.

Jantar no Jean-Georges:

  • Cortesia. Mimo de boas-vindas;
  • Anticucho de contrafilé Wagyu marinado (com batatas roxas);
  • Sobremesa: flor de maracujá, praliné de avelã, caramelo.

Se hospedar no Tangará, em meio ao parque, é, enfim, uma experiência inesquecível. Nem parece que você está em uma cidade tão frenética como São Paulo.

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