
Nos três ou quatro dias em que estive em Varsóvia visitei o Museu da Resistência e me deparei com uma série de efemérides pelas ruas e praças que recordavam a ocupação nazista e a soviética. Quem conhece a História sabe o quanto a Polônia sofreu durante a II Guerra Mundial. Invadida simultaneamente por russos e alemães, a Polônia foi subjugada e dividida entre as duas potências, conforme combinado por Hitler e Stálin no anexo secreto do Pacto Molotov–Ribbentrop. A metade situada a oeste do Rio Bug foi ocupada pela Wehrmacht (o exército alemão), enquanto a metade leste pelo Exército Vermelho e incorporada ao território soviético.
O Museu da Resistência de Varsóvia é bem interativo, mostra toda a visão dos poloneses sobre os anos de ocupação – e eles não se referem apenas aos alemães, mas aos russos também, que juntamente com o Nacional Socialismo sumiram com a Polônia do mapa. As pessoas, no Brasil, por exemplo, sempre se esquecem dos russos, da União Soviética – mas não espere isso de países que viveram o Comunismo e estão livres desse regime não faz muito tempo. Enfim, o museu é interessante: mostra como a Polônia passou para a zona de influência da União Soviética após a guerra, fala tudo sobre a Resistência polonesa, mostra como era o forte apoio da Inglaterra aos exilados poloneses (que lutaram na RAF, sempre com uma insígnia no uniforme que os identificava como oriundos da Polônia – até hoje há muitos descendentes de poloneses na Inglaterra) e muito mais…
Particularmente, achei oportuna a Sala Vermelha, que mostra as más recordações dos poloneses com relação à União Soviética (que chegou a acusar o exército polonês de ser “colaboracionista” com os alemães). Por todo o museu, no acervo que mostra a resistência ao nazismo e os anos sob a ocupação soviética, fica claro o talento que os poloneses tinham para a charge. Parece que há em Varsóvia, aliás, um museu da charge, mas não tive tempo suficiente para visitá-lo.
Saindo do Museu, outra lembrança viva entre eles é o Massacre de Katynm de autoria do Regime Soviético e que até 1990 era atribuído aos nazistas. Na Igreja da Santa Cruz, onde está o coração do compositor Frederick Chopin, o massacre de 22 mil prisioneiros de guerra na floresta de Katyn, a maioria soldados poloneses, ocorrido entre 5 de abril e 3 de maio de 1940, não é esquecido. Em 1943, quase dois anos depois da Operação Barbarossa, a invasão da URSS pelas tropas nazistas, o governo alemão anunciou a descoberta de valas com corpos na floresta de Katyn. O governo polonês no exílio, em Londres, pediu de imediato à Cruz Vermelha Internacional que abrisse investigações, o que levou Stalin a romper relações com os poloneses expatriados.
Esperançosa de que o crime permanecesse oculto para sempre, a União Soviética alegou que o genocídio havia sido praticado pelos nazistas e continuou a negar a responsabilidade sobre os massacres até 1990, quando o governo de Mikhail Gorbachev reconheceu oficialmente o massacre e condenou os crimes levados a cabo pela NKVD em 1940 (futuramente batizada como KGB), assim como seu subsequente encobrimento. No ano seguinte, Boris Yeltsin trouxe a público os documentos que autorizavam o genocídio. A sugestão de eliminar os soldados partira de Lavrenti Beria, diretor da NKVD, que alegava que os militares poloneses aprisionados no conflito poderiam formar uma guerrilha de resistência à ocupação estrangeira, caso fossem postos em liberdade.
Ainda falando sobre a influência Soviética, vale uma visita ao imponente (e até assustador) Palácio da Cultura e da Ciência (Pałac Kultury i Nauki), da era Stalinista. Um marco do período socialista. Lá você chega ao topo e pode vislumbrar a cidade do terraço. Paga alguns Zloth por isso (a moeda deles).
E próximo a Via Real fica o Jardim Saxão, que abriga o túmulo, memorial ao soldado desconhecido. Nesse local, havia o Palácio Saxão, que foi destruído na II Guerra Mundial. Quando cheguei os militares estavam fazendo a troca da guarda.