
No dia em que cheguei em Varsóvia (foi em um domingo), passei o dia inteiro envolvida na Via Crucis que é visitar cada local que conta um pouco da história de Frederick Chopin, um dos maiores nomes do Romantismo na música erudita.

Eu sempre visito esses museus internacionais dedicados à biografia e obra de grandes musicistas e compositores porque por muitos anos a música fez parte da minha rotina. Minha mãe é musicóloga, professora aposentada pela Escola de Música de Brasília, pianista e flautista. Eu, na infância, estudei canto (ópera infantil), piano, flauta doce e violino. Meu pai não era músico, mas tinha uma coleção com literalmente milhares de CDs, vinis, fitas cassete e raridades de quase todas as vertentes de música erudita e investia quantias vultuosas em equipamentos de som de qualidade (ele também tinha em sua coleção um pouco de música popular do início do século do Brasil). Apreciar Wagner, Chopin, Carlos Gomes, Villa-Lobos, Bartók, Mussorgsky, Manuel De Falla etc era parte do quotidiano no lar onde cresci.
Visitei esse lugar porque Chopin está entre meus compositores favoritos e muito também em homenagem a minha mãe, que só queria estudar e tocar as obras para piano do polonês quando ela era uma jovem estudante de piano. Nas palavras dela: “eu amo Chopin, só queria estudá-lo, ao ponto dos professores me obrigarem a exercitar outras vertentes do Romantismo”. Então comecei pela casa onde Chopin chegou a morar, a igreja onde está seu coração – de verdade – o Museu Chopin, Escola de Música que leva o seu nome etc.
O museu abarca de tudo: suas viagens à Alemanha, Inglaterra, vida na França, o relacionamento com George Sand, a influência da música folclórica polonesa na sua obra, os noturnos, sonatas, polonaises, mazurcas… Sua depressão e sucessivas internações em spas por conta de “melancolia”.
Vários aspectos históricos. Em 1830, a opressão do Czar Nicolau I sobre a Polônia chegara a um ponto insuportável, provocando a famosa insurreição de novembro. Seguiu-se uma guerra, com a vitória final dos russos. Milhares de poloneses se exilaram, muitos do quais antes de estourar o conflito. Entre eles, Chopin.
Não tendo condições para continuar sua carreira em Varsóvia e aconselhado por amigos, o compositor deixou a terra natal. Parte para Viena e, na despedida, seus amigos lhe entregam uma taça com terra polonesa, gesto que o comove. Chopin não poderia supor que em breve estouraria uma guerra, impedindo-o de voltar para sempre.
Quando morreu, seu corpo foi enterrado no cemitério de Père-Lachaise, na França, exceto seu coração, que foi enviado para Varsóvia e depositado na Igreja de Santa Cruz, onde estive e comentei sobre a homenagem às vítimas do Massacre de Katyn.
Tudo em Varsóvia remete a Chopin: do aeroporto que leva seu nome e conta com um piano no hall, onde qualquer transeunte pode tocar músicas nos teclados, aos bancos nas praças. Espalhados pela cidade, os bancos trazem escritos com trechos de sua biografia e trechos de suas músicas – basta clicar em um botão para ouvi-las:

E criativo. Inventou pianos e equipamentos para ginástica dos dedos (treino de escala):