
Fiquei um bom tempo sem publicar nada no blog. Retorno em grande estilo: começando por uma viagem que fiz recentemente, em março de 2022, para conhecer o Estado do Amazonas – a capital, Manaus, e ao menos uma parte da nossa imponente e famosa floresta amazônica (mais especificamente o Parque Nacional de Anavilhanas).
Seguem então dicas e impressões sobre essa fascinante parte do nosso país, ainda pouco explorada turisticamente por nossos conterrâneos, quando comparada a outras regiões do Brasil.
Eu e meu esposo ficamos no Amazonas por nove dias (de 16 a 25 de março de 2022), sendo quatro em Manaus e cinco em um hotel situado no Parque Nacional de Anavilhanas. Chegamos de manhã cedo à capital do Amazonas e já saímos percorrendo as ruas de Manaus para conhecermos a suntuosa arquitetura da cidade, testemunha de um passado glorioso. Nosso hotel, o Villa Amazônia, ficava na mesma região do Centro onde está o famoso cartão-postal da cidade, o Teatro Amazonas, cuja visita guiada fizemos à tarde, e em frente ao Palácio da Justiça.
Aliás, vale a pena se hospedar na Rua 10 de Julho, repleta de hotéis para todos os gostos e bolsos. Além do teatro, no logradouro também estão localizados a Igreja de São Sebastião, bares, restaurantes e monumentos que fragmentam partes da história de Manaus.
A curiosidade inicia-se pelo calçadão da praça em frente ao Teatro Amazonas, cercada por árvores Oitis e Viuvinhas. O piso composto por desenhos em curvas teria inspirado as calçadas de Copacabana, no Rio de Janeiro, e simboliza o encontro das águas dos rios Negro e Solimões.
Teatro Amazonas
Fizemos a última visita guiada ao Teatro Amazonas, às 17h. Basta chegar à entrada principal e comprar o ingresso. Em decorrência do lucrativo comércio da borracha, Manaus, capital do estado do Amazonas, vivia seu esplendor no início do século XX. Os habitantes dispunham de energia elétrica, bondes, linhas diretas de navegação com a Europa.
E um ativo teatro de óperas, inaugurado em 1896 (este, o belíssimo Teatro Amazonas), além de outras comodidades proporcionadas pelo progresso. O Amazonas do início do século XX era um dos estados mais prósperos do Brasil.
O Teatro Amazonas é o principal patrimônio cultural e arquitetônico desse estado. O estilo arquitetônico é renascentista, com detalhes ecléticos. Na área externa, a famosa cúpula chama a atenção pela exuberância, composta por 36 mil peças nas cores da bandeira brasileira, importadas da Alsácia, na França. A maior parte do material usado na construção do teatro foi importada da Europa: as paredes de aço de Glasgow, na Escócia; os 198 lustres e o mármore de Carrara das escadas, estátuas e colunas, são da Itália.
O salão de espetáculos tem capacidade para 701 pessoas, distribuídas entre a plateia e três pavimentos de camarotes. O teatro apresenta merecidas homenagens aos dois maiores compositores eruditos brasileiros Carlos Gomes e Heitor Villa-Lobos. Não passam despercebidas também as máscaras nas colunas da plateia, que homenageiam compositores e dramaturgos, entre eles, Aristófanes, Richard Wagner, Molière, Rossini, Mozart e Verdi. O Pano de Boca do Teatro Amazonas é outra raridade. Foi confeccionado em 1894 pelo artista brasileiro Crispim do Amaral, e descreve o encontro dos rios Negro e Solimões.
No Salão Nobre, onde aconteciam os grandes eventos sociais da época, destaca-se a pintura do teto feita por Domenico de Angelis, em 1899, e que foi batizada de “A glorificação das Bellas Artes da Amazônia”.
Tivemos o privilégio de visitar esse magnífico local, que já foi cenário do filme Fitzcarraldo, de Werner Herzog. Uma pena que não consegui assistir a algum concerto nesses dias em que estive em Manaus.
Teatro do Amazonas
Visitação turística: terça a sábado, das 9h às 17h.
Valores: R$ 20,00 ou R$ 10,00 (para estudantes, professores, idosos, doadores de sangue, militares e acompanhante de pessoa com deficiência). Gratuito (amazonenses, crianças até 10 anos e pessoas com deficiência).
Arquitetura de Manaus

No primeiro e segundo dias, visitamos o Centro Histórico de Manaus, o bairro da Ponta Negra, localizado na praia urbana homônima e um dos cartões-postais da cidade, e o Manauara shopping center. A Ponta Negra é uma praia banhada pelo famoso Rio Negro. Meu marido, Welf, que é alemão, ficou impressionado com tudo: não tinha ideia de que Manaus, com seus 2,5 milhões de habitantes, era tão moderna e cosmopolita. Welf ficou com a sensação de que as pessoas no exterior têm uma visão distorcida da cidade, não condizente com a realidade quotidiana – comum a qualquer grande cidade. Quanto a mim, nada me surpreendeu, afinal sou brasileira e já sabia que era como qualquer outra cidade através de meios de comunicação, bancos escolares e relatos de conhecidos cujas famílias eram de cidades do norte. Eu sempre quis conhecer Manaus e Belém.
Patrimônio nacional, o Centro é formado por edificações do período áureo do ciclo da borracha, um dos maiores testemunhos de uma fase econômica ímpar no Brasil, quando a exploração do látex proporcionou o incremento da industrialização em escala mundial.
A preservação deste núcleo inclui Manaus no rol das cidades históricas do Brasil. Mesmo fragmentada, a cidade ainda possui um vocabulário arquitetônico vasto e diversificado, com representação de todas as correntes ecléticas e a verticalização ainda não compromete a percepção do espaço criado na Belle Époque, quando Manaus era conhecida como a “Paris dos Trópicos”.
Entre os anos de 1580 e 1640, época em que Portugal e Espanha estavam sob uma só Coroa, teve início a povoação europeia na Amazônia. Manaus foi fundada em 1669, a partir do Forte de São José da Barra do Rio Negro. O forte fora construído para evitar a invasão dos holandeses aquartelados no Suriname (então Guiana Holandesa).
A cidade recebeu, em 1856, finalmente, o nome de Manaus, em homenagem à nação indígena dos Manáos, o mais importante grupo étnico habitante da região, reconhecido historicamente pela sua coragem e valentia.

Com a Proclamação da República, em 1889, Manaus é elevada a capital do Estado do Amazonas, época em que a borracha, matéria-prima da indústria mundial, era cada vez mais requisitada. O Amazonas, como principal produtor, orientou sua economia para atender à demanda, no chamado Período Áureo da Borracha (1890-1910). Por meio da borracha, o Norte do Brasil se tornou um eixo econômico, possibilitando ao país, embora temporariamente, uma supremacia econômica mundial.
Bem em frente ao Teatro Amazonas, no Largo Sebastião, rodeado por bares, restaurantes, barraquinhas de tacacá e lojas de artesanato, está o Monumento à Abertura dos Portos em Manaus, decretado por Dom Pedro II no dia 7 de dezembro de 1866. Com todos os elementos feitos em bronze, o monumento marca a abertura dos portos e rios da Amazônia à navegação estrangeira e simboliza os quatro “cantos do mundo”: Ásia, América, África e Europa.
As peças do monumento chegaram trazidas da Europa a Manaus em partes separadas. Os elementos em bronze foram produzidos em Gênova e nos famosos ateliês de Enrico Quatrini, em Roma. A estátua no topo é uma alegoria ao comércio. Ao lado, é possível ver uma estátua do deus Mercúrio sentado em uma engrenagem (símbolo da Indústria e Comércio).
No barco da América, elementos decorativos diversos estão agrupados, com um menino na proa e uma serpente enrolada na quilha do barco, representando o primeiro navio viking que foi para a América do Norte.

Não apenas a arquitetura da Belle Époque está representada em Manaus. Próximo ao Mercado Público está um belo grafite de 300 m² com a imagem de uma guerreira indígena amazônica na lateral do antigo Hotel Amazonas, na Rua Floriano Peixoto. A obra é do artista visual Alessandro Hipz.
Palácios e Museus no Centro Histórico

No Centro Histórico estão suntuosas casas do período áureo da borracha, que hoje abrigam simpáticos hotéis e restaurantes. Com a riqueza gerada pela exploração da borracha, os governantes e comerciantes locais trouxeram da Europa vários arquitetos e paisagistas para a execução de um ambicioso plano urbanístico, que resultaria em uma cidade com perfil arquitetônico europeu, embora dentro da selva.
Visitei os palacetes do barão da borracha alemão Karl Waldemar Sholtz (Palácio Rio Negro). O Museu Casa Eduardo Ribeiro, onde residiu o ex-governador responsável por agilizar importantes obras de urbanização de Manaus,
como o Teatro Amazonas, estava infelizmente fechado para reformas. Os palácios hoje abrigam museus e centros culturais.
Construído no início do século XX, em estilo eclético, pelo arquiteto italiano Antonio Jannuzzi, o Palácio Rio Negro foi construído para ser residência particular do comerciante da borracha alemão Waldemar Scholz que, devido à queda do preço da borracha a partir de 1912, teve de hipoteca-lo ao coronel Luiz da Silva Gomes, por 400 contos de réis. Em uma primeira fase, o Palácio foi arrendado para servir de residência do governador.
O Palacete Provincial é outro prédio de arquitetura eclética do final do século XIX. Antiga sede do governo, hoje abriga um conjunto de cinco museus: Arqueologia, Museu da Imagem e do Som (MISAM), Museu de Numismática do Amazonas, Museu Tiradentes e a Pinacoteca do Estado do Amazonas. A Pinacoteca reúne um acervo com obras de vários períodos artísticos, principalmente de artistas manauaras e amazonenses. No Museu de Arqueologia estão expostos urnas funerárias utilizadas pelos povos indígenas para sepultamento e uma estatueta antropozoomorfa tapajônica (peça de arte mobiliar arqueológica em esteatita, muito semelhante à pedra-sabão). Essa peça lítica está associada à cultura tapajônica, que ocupava a região da foz do Rio Tapajós (Amazonas).
Mercado Público
Próximo ao porto de Manaus está o imperdível Mercado Público Adolpho Lisboa (cuja beleza é infinitamente superior à do Mercado Público da minha saudosa Porto Alegre, lá no Sul). O ferro se faz muito presente na edificação e em outras construções da cidade, como coretos.
Por lá é vendido o pirarucu, conhecido como o “bacalhau da Amazônia”, ingrediente de diversos pratos deliciosos na culinária da região. O pirarucu é um dos maiores peixes de água doce do mundo, podendo atingir até três metros e seu peso pode chegar a 200 quilos. Alimento tradicional entre as populações ribeirinhas, o alto valor comercial do pirarucu se deve ao grande porte e excelente sabor de sua carne, muitas vezes substitutiva do bacalhau. Outras atrações do Mercado Público de Manaus são a macaxeira, tapioca, peixes como o tambaqui, castanhas, açaí, óleos para feitiços, Viagra natural, artesanato com motivos de bumba meu boi etc.
Artesanato e Compras
A Rua 10 de Julho conta com muitas lojas que prestigiam o trabalho de artistas locais, tribos indígenas e populações ribeirinhas. Um exemplo é a GaleriAmazônica, que vende artesanato de mais de 30 tribos indígenas de diversas regiões amazônicas. Nessa galeria é possível conhecer a origem da peça, da etnia que a produziu e da região. Sem intermediários, a galeria se relaciona diretamente com as associações locais e remunera diretamente os produtores.
Outra boa opção é a Banca do Largo, uma encantadora livraria que funciona em um quiosque próximo ao Teatro Amazonas. Vende livros sobre a floresta amazônica, mas também tudo sobre a arquitetura esplendorosa de Manaus, além de obras literárias de poetas e escritores consagrados do estado.
Enfim, foi uma viagem fascinante. Nos próximos posts, trarei algumas dicas e relatos sobre o hotel de selva em que nos hospedamos, passeios imperdíveis por Manaus, gastronomia e muito mais.
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