Lisboa, Portugal

Monumento das Descobertas

Estive em Lisboa pela primeira vez em 2014, quando ainda era solteira, na companhia de minha mãe e de uma amiga dela. Lá nos encontramos com um casal português amigo delas. A segunda vez foi já casada, com meu esposo, em janeiro de 2017. Eu sugeri que visitássemos várias cidades de Portugal, de norte a sul do país. Para muitos povos, Portugal é sinônimo de país menos explorado da Europa ocidental e uma terra de muitos contrastes. Para os brasileiros, porém, há uma atração a mais, com a qual lidamos desde os primeiros anos nos bancos escolares: um passado em comum.

Neste post, portanto, estão fotos que tirei em 2014 e em 2017. Começando pelas de 2014, que foram poucas, pois fiquei por apenas dois dias em Lisboa e gostei tanto que jurei retornar, o que fiz dois anos e meio depois:

O primeiro lugar que visitei foi aquele que selou a conexão entre Portugal e o Brasil (um nome de origem celta, remontando a uma lenda irlandesa muito admirada pelos portugueses na época das descobertas). Em Lisboa, como parte de mim também é portuguesa (originalmente de Guimarães / Braga – meu lado paterno cujo ancestral veio na comitiva de 1808 com o rei João VI – e dos Açores por mãe). Na verdade, sou uma mistura de portugueses, alemães, franceses, italianos e ingleses. Fazendo uma paródia com Fernando Pessoa: desde a sucursal do 5º Império, Brasil, até sua sede, Portugal – como o próprio Fernando Pessoa considerou que somente Portugal e Brasil seriam capazes de liderar este 5º Império, um império espiritual, o império católico universal. A ideia original foi concebida pelo padre Antônio Vieira, no século XVI. O Quinto Império é um conceito de um império global português com poder espiritual e temporal, estabelecido para ocupar o seu lugar em uma nova era e baseado na profecia do segundo capítulo do livro de Daniel e no livro do Apocalipse.

Brasil e Portugal estarão sempre conectados não só através do idioma, mas também por vários aspectos (na maior parte do tempo, esqueci que estava em Lisboa e pensava estar em uma cidade brasileira, como Porto Alegre – tão forte e inegáveis são as influências). Um exemplo é o Sebastianismo, o aspecto do motivo popular do rei adormecido, parte da mitologia e cultura portuguesa e brasileira – mas muito mais forte no Brasil. Sebastianismo significa esperar por um herói que vai salvar Portugal e levá-lo ao Quinto Império, conhecido como o eu nacional. No Brasil, a presença mais importante do sebastianismo aconteceu no contexto da Proclamação da República, em 1889, liderando movimentos como a Guerra de Canudos, em 1896, que defendia os direitos divinos do imperador Pedro II de liderar o Império brasileiro – a maioria do povo, incluindo os mais pobres, os mais humildes, era contra a República (implantada por causa de um golpe de Estado) e os defensores da República no Brasil eram ingleses, maçons, fazendeiros contrários à abolição da escravatura e militares influenciados pelo positivismo, mas a maioria das pessoas era pró-monarquia e catolicismo. Fernando Pessoa também escreveu sobre este “herói que estaria por vir” em seu épico “Mensagem”.

Dom Sebastião não pode faltar. 😉 “O sertão vai virar mar”. Museu de Arte Antiga em Lisboa

Estas imagens iniciais no Monumento das Descobertas, em Lisboa, onde os navios partiram para comerciar com a Índia e o Oriente celebram a Era Portuguesa dos Descobrimentos durante os séculos XV e XVI. Ela representa para mim o óbvio: o espírito guerreiro não tem raízes na Pérsia, na Índia, nos alemães, nos celtas, nos eslavos, etc. O espírito guerreiro ocidental remonta à cavalaria cristã na Idade Média, à grande era das navegações, à conquista da América, e a “ocidentalização do mundo” – enfim, remonta a tudo que alguns abominam e insistem em desacreditar em uma guerra cultural suja. ^_~

Em 2014, eu havia visitado uma exposição no Museu Arqueológico Português sobre os períodos romano e celtíbero em Portugal, com aspectos da História de Portugal que estão entre os que mais aprecio, que é um assunto pouco conhecido, apresentado em três livros raros escritos no século XIX por um autor português que admiro fortemente (eu tenho todos os seus livros) – difícil de ser encontrado em Portugal, mas não tão difícil de encontrar em antiquários no Brasil): trata-se da obra Religiões da Lusitânia, de José Leite de Vasconcelos, fundador do Museu Etnológico.

No museu, vi estátuas de guerreiros lusitanos-galaicos do final da Idade do Ferro, deuses lusitanos como Endovélico e Ataegina, altares de pedra consagrados a Diana Ferox, arte funerária do Museu de Évora, relevos mitraicos, amuletos fálicos, textos sacrificiais em língua lusitana cordas), consagração militar (Phalera) etc. De todos os cultos orientais implantados na Lusitânia foram os de Isis e Serapis os que deixaram o maior número de monumentos.

“Considerado como um ponto de interferência no mundo dos mortos, do mundo dos vivos e do mundo dos deuses, um túmulo pode ser, ao mesmo tempo, um ‘centro’, um ‘omphalos’ do mundo” (Mircea Eliade):

No Mosteiro dos Jerônimos estavam as lápides de duas personalidades sobre as quais aprendemos tanto no período escolar: Vasco da Gama (suas famosas cartas sobre o Brasil na época da chegada dos portugueses) e Luís de Camões. Aqui estão eles:

E agora fotos de janeiro de 2017, quando viajei para uma série de cidades em Portugal na companhia de meu esposo:

Um local que gostei de visitar em janeiro de 2017 foi o Museu dos Azulejos. Os azulejos que, como todo mundo sabe, foram influência moura em Portugal. Com origem na palavra árabe azzelij ou al zuleycha, que significa “pequena pedra polida”.

Em ruínas, fruto de terremoto e incêndio ocorrido há muito tempo, a Igreja e Museu São Roque tem como atração lápides de reis e de judeus (rabinos, como a sepultura de Yehuda Ben Rimok, Mashnuna Cohen etc). Além de pedras tumulares islâmicas, há a fivela de um cinto do período visigótico, ruínas e estátuas do período romano.

Um bairro que me trouxe a lembrança da organização de uma série de logradouros no Brasil foi Alfama, o bairro mais antigo e um dos mais típicos de Lisboa. O bairro teve no passado influência árabe, visível no nome Al-hamma (الحمّة), que significa banhos ou fontes. Se assemelha a uma aldeia antiga, é conhecido pelos cafés e casas de fado. E as escadarias dão aquela sensação de Rio de Janeiro, quando se desce rumo à Lapa, por ali, sabe? Com ruas estreitas… E bondes transitando, claro.

Para quem gosta da Era dos Descobrimentos eu recomendo o Museu de Arte Antiga, que reúne pintura e escultura portuguesa, além de arte do período das navegações. Arte portuguesa em locais como China, Índia, Japão, Síria, biombos japoneses retratando as navegações e o comércio, pinturas com o retrato de Dom Alfonso Albuquerque, primeiro governador da Índia … Está tudo lá.

Em termos de museus, o destaque para mim ficou por conta do Calouste Gulbenkian, que leva o nome de um em empresário petrolífero de origem armênia radicado em Portugal. Ele criou o Museu, onde se expõe uma parte importante arte oriental, francesa do século XVIII etc. Mas o motivo pelo qual estive lá foi por conta da coleção de joias e objetos Art Nouveau de René Jules Lalique, do qual sou fã, especialmente das peças dele com motivos de serpentes: açucareiro de serpentes, medusas, espelhos, broches, pesos para papéis etc.

Porque amo dragões, serpentes, medusa, ophiussa… e porque o símbolo da monarquia brasileira também estava ligado às serpentes e dragões:

E achei itens incríveis nos sebos de lá. Ilustrações francesas d’Os Lusíadas, Paraíso Perdido de Milton em francês… Não perdi a oportunidade de comprar algumas raridades:

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