
Nosso primeiro destino pelo interior do Rio Grande do Sul, antes de Cambará, foi a cidade de Santo Antônio da Patrulha. O destino escolhido para quatro noites foi o Estribo Hotel Estância, belíssimo hotel fazenda que, em 2023, está completando seis anos de existência.
Tudo no hotel impressiona. Em temática tipicamente gaúcha, com apresentação de músicos nativistas e Centro de Treinamento de cavalos crioulos – premiamos até internacionalmente, alia o clima rústico à sofisticação. A natureza da região é suntuosa, proporcionando aos hóspedes visões incríveis do entardecer. É uma ótima opção tanto para estrangeiros e brasileiros de outros estados que queiram conhecer a verdadeira cultura popular do Rio Grande do Sul quanto para os moradores da capital do estado, já que a distância a Santo Antônio da Patrulha e ao hotel Estribo é de apenas 1h15min.
O Estribo Hotel Estância dispõe de capacidade para receber até 178 hóspedes. A fim de proporcionar um maior convívio com a vida do campo, oferece atividades externas como falcoaria, trilhas, cavalgadas, piqueniques sob agendamento, passeio de trator, bicicletário, o bar da piscina Bolicho, fogo de chão, jardim italiano e visitas à fazenda para ordenhar e alimentar os animais – um ótimo programa para quem viaja com crianças, que ainda são contempladas com playground e xadrez gigante.
Os quartos são espaçosos e requintados. Ficamos em uma modalidade com banheira e um toque bem campeiro. Fomos no auge do inverno e as gélidas temperaturas requeriam acender a lareira do quarto todas as noites.
Muitas atividades esperam por você

Há atividades programadas todos os dias da semana e a sugestão é desfrutar de tudo o que puder e aproveitar os momentos para relaxar no excelente spa da estância. Você pode desfrutar de atividades ao ar livre, como aprender sobre a tradicional arte da cutelaria, de forjar facas, aos sábados à tarde, quando o costelão é preparado por horas no fogo de chão.
Ou ainda jogar bocha, esporte típico do estado que remonta à chegada dos imigrantes italianos e é jogado entre duas equipes com bochas (bolas). A dica de uma atividade bem característica da vida no bioma pampa é o fogo de chão, situado em um Chimarródromo: desfrute de um chimarrão preparado com variadas ervas mate enquanto aprecia um pôr do sol deslumbrante. Eu, apesar de gaúcha, confesso que nunca tive o hábito de tomar chimarrão e para quem não conhece a bebida, digo que o gosto me lembra o de chá verde.
Entre as experiências que participamos, a que mais gostei foi a cavalgada, embora eu nem tenha o hábito de montar cavalos. Os cavalos crioulos que participam das cavalgadas vivem livremente nos campos e o passeio é acompanhado por instrutores. Eu fiz a cavalgada dos campos altos, de dificuldade moderada e duração de uma hora.
Meu esposo adorou a falcoaria, atividade realizada aos sábados e quartas-feiras aos finais de tarde. O biólogo e falcoeiro Ubiraci Silva de Moura mostra o voo e hábitos de corujas, falcões e águias típicas do sul.
O paraíso dos carnívoros

A comida da Estância é farta e excelente. O restaurante Estância Gastronomia serve o melhor da culinária do estado: muito churrasco e comida italiana. A cozinha do Rio Grande do Sul tem como tradição a carne de charque, o churrasco (a tradicional costela), feijão, o arroz de carreteiro, vísceras como coração de frango, carne suína e influências advindas da imigração alemã e italiana, no século XIX.
A típica comida do gaúcho (essa espécie de cowboy encontrado no sul do Brasil, Uruguai, Argentina e antigamente nas Malvinas) é assim: pitadas de comida italiana (como o galeto, cortes de frango trazidos por imigrantes do norte da Itália e a polenta) e uma mistura entre a comida indígena, espanhola e portuguesa. O cardápio disponibiliza o melhor da comida do homem do campo, a chamada cozinha da Campanha. Em um sábado à noite nos deleitamos com um inesquecível costelão preparado no fogo de chão por oito horas. De sobremesas típicas, ambrosia, sagu com creme (doce de uva) e pudim de leite.
Logo após o jantar, a atração é a Pulperia – Tragos & Versos, bar da estância, que conta com excelente carta de vinhos (e produção própria), além de licores de variadas frutas: nêspera, amora, pitanga, damasco etc. Meu marido se encantou sobremaneira pelo licor de pimenta malagueta ao ponto de pedir à gerência para trazer uma garrafa da bebida, a qual foi distribuída em sua festa de aniversário no mês seguinte, agosto, quando retornamos a Brasília, onde moramos.
Música

Em várias noites, há apresentação de música gauchesca, com compositores tradicionalistas consagrados do Rio Grande do Sul. Um pouco da música típica do meu estado: melancólica, melódica, com temática sobre a natureza, a terra, os costumes, o cavalo. As letras giram em torno das origens, da identidade e da sensação de sua perda em decorrência das mudanças sociais e históricas, sempre tendo como protagonista o Gaúcho.
As músicas gaúchas são variações de melodias que animavam as danças de salão europeias nos séculos XVIII e XIX: valsa, polca e mazurca, que foram adaptadas para vaneira, vaneirão, chamamé, milonga, rancheira, polonaise e chimarrita.
O gaúcho

Gaúcho é uma denominação dada às pessoas ligadas à vida rural em regiões de ocorrência de campos naturais, do bioma do pampa – que abrange o sul do Brasil (o estado do Rio Grande do Sul), Argentina, Uruguai e Paraguai.
As características do seu modo de vida pastoril forjaram uma cultura própria, derivada principalmente da ibérica e indígena. O gaúcho é considerado similar a outros estilos de vida rurais, como o cowboy nos EUA e o mexicano charro.
O termo também é usado para denominar os nascidos no Rio Grande do Sul. Serve ainda para denominar um tipo folclórico e um conjunto de tradições difundidas por um movimento cultural agrupado em agremiações, conhecidas como Centro de Tradições Gaúchas – as quais estão espalhadas por outros estados brasileiros e países diversos.
Cavalos crioulos
O Centro de Treinamento do hotel é um mergulho nesse universo. Ali há apenas cavalos crioulos premiados. O crioulo é uma raça de cavalo brasileira, originário dos animais de sangue andaluz e berbere. Foram introduzidos no continente americano pelo aventureiro espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca nos primeiros anos após o descobrimento do Brasil. Assim como os mustangues dos EUA, os animais que deram origem à raça crioula eram caçados e domados tanto pelos índios cavaleiros, os charruas, quanto pelos estancieiros.
Atualmente, a raça crioula está espalhada por todo o Brasil, mas é um símbolo cultural especialmente aqui onde passamos férias, no estado onde nasci. É um dos ícones da cultura gaúcha.